quarta-feira, 12 de março de 2014

031--OS VALDENSES,O ISRAEL DOS ALPES


HISTÓRIA DOS VALDENSES
Por J. A. Wylie (1808-1890)
London: Cassell and Company, 1860

PREFÁCIO
Esta obra—que é uma reimpressão do décimo sexto Livro da HISTÓRIA DO PROTESTANTISMO— é exclusivamente ocupado com o assunto dos valdenses. Descreve sucintamente os conflitos que eles empreenderam e os martírios que eles suportaram em defesa da sua fé e da sua liberdade e é publicado na forma presente para satisfazer as exigências daqueles que se interessam por estas pessoas notáveis.
Recentes eventos na Europa trouxeram os valdenses à proeminência, e lançou uma nova luz na grandeza de suas lutas e nos assuntos importantes e duradouros que fluíram disto. Para eles, de uma maneira muito particular, traçamos as liberdades constitucionais que a Itália a esta hora desfruta. No significativo ano de 1848, quando uma nova constituição estava sendo moldada para o Piemonte, os valdenses tornaram claro para o governo que não haveria nenhum lugar para eles dentro das linhas daquela constituição, a menos que abraçasse o grande princípio de liberdade de consciência.
Para este princípio eles tinham batalhado durante quinhentos anos, e nada menos disto eles poderiam concordar como uma base de  determinação nacional, convencidos estavam que qualquer outra garantia das suas liberdades seria ilusória. A sua demanda foi concedida: o princípio de liberdade de consciência a raiz de toda a liberdade encarnou na nova constituição, e assim os habitantes do Piemonte compartilharam igualmente com os valdenses em um benefício que as lutas mais recentes tinham sido principalmente úteis em garantir.
Não só assim: no decorrer do tempo a constituição de Piemonte foi estendida ao resto da Itália, e a nação italiana inteira até hoje compartilha dos frutos que vieram da labuta, do sangue, da fé firme, e da devoção heroica dos valdenses. Nem a sua obra terminou ainda. Eles entenderam o fim para o qual foram preservados por tantas eras de escuridão e conflitos, e se lançaram energicamente na evangelização da Itália moderna, e indubitavelmente estes crentes antigos são destinados a ganhar, na terra onde eles suportaram tantas dores tenebrosas, não poucos triunfos brilhantes, pela labuta do presente acrescentar às obrigações que a Cristandade lhes deve pelos serviços prestados no passado.
J. A. Wylie.INTRODUÇÃO EDIÇÃO DE 1985

É com muito amor pela causa de Deus e pelo Seu povo que colocamos este valioso trabalho à disposição. Os conteúdos deste pequeno volume deveriam ser uma força e encorajamento a todos os que o lerem. Pelas páginas registradas da histórias em volumes como este, podemos perceber a grande misericórdia, graça e providência de Deus.

Nós deveríamos ser muito gratos pela nossa liberdade religiosa e civil que desfrutamos hoje. Ainda, deveríamos nos envergonhar pelo nosso murmúrio presente e reclamação quando lemos sobre os sofrimentos e perseguições de nossos antepassados.

É nossa esperança de alma desejar que a causa de Deus seja beneficiada por esta HISTÓRIA DOS VALDENSES. Este realizado, daremos para Deus a honra e glória.

PESQUISA E ARQUIVOS DA HISTÓRIA DA IGREJA

 (CHURCH HISTORY RESEARCH AND ARCHIVES) 7 de setembro de 1985
Capítulos:

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Traduzido por  Edimilson de Deus Teixeira
Fonte:  Providense  Baptist  Ministries
Durante toda a Idade Média, numerosos grupos de irmãos se separaram da Cristandade oficial para procurar uma forma de cristianismo mais puro e apegado à simplicidade evangélica. Já vimos o alto preço que deveriam pagar muitos deles por causa da sua fidelidade à Palavra de Deus. O caminho da fé foi regado com o sangue do seu martírio.
Na Europa ocidental, cátaros e albigenses cresciam, especialmente na França e Espanha. E nos vales alpinos do norte da Itália e no sul da Suíça, prosperaram por vários séculos um grupo de irmãos de características singularmente especiais a quem a história designou com o nome de Valdenses.
Suas origens
Embora estreitamente aparentados com os albigenses, a sua origem parece remontar-se a uma época anterior. A antigüidade dos Valdenses é testemunhada por várias fontes, tanto internas como externas ao movimento, e também por algumas características muito particulares de sua fé e práticas. O inquisidor Rainero, que morreu em 1259, escreveu:
"Entre todas estas seitas... a dos leonistas (leia-se Valdenses).. foi a que por mais tempo tem existido, porque alguns dizem que tem perdurado desde os tempos de Silvestre (Papa em 314-335 DC), outros, do tempo dos apóstolos". Marco Aurélio Rorenco, pároco de São Roque em Turin, em seu reconto e história dos mesmos, escreveu que os Valdenses são tão antigos que não se pode precisar o tempo de origem. Além disso, os próprios Valdenses se consideravam muito antigos e originavam a sua fé dos tempos apostólicos.
Outra evidencia a favor da sua antigüidade é a sua relativa falta de antagonismo para a cristandade oficial, diferente de outros grupos (incluindo albigenses) que se separaram dela como uma reação contra os seus enganos. Os Valdenses se caracterizavam por uma atitude mais tolerante, pois estavam dispostos a reconhecer que havia muitos homens que caminharam e ainda caminhavam com Deus ali. Por isso, mais adiante e quando entraram em negociações com os Reformadores, mostraram-se dispostos a reconhecer o que tinha de bom dentro da igreja organizada, o qual estes últimos rejeitaram completamente.
O reformador suíço Guillermo Farell se lamentava, por exemplo, da falta de rigor e concordância com as doutrinas protestantes mais duras e anticatólicas, entre os Valdenses com quem entrou em contato. Em uma de suas cartas se queixa desta "característica" que ele atribuía ao declínio espiritual do movimento, sem perceber a longa história espiritual que existia atrás dela.
Na verdade, embora seja impossível precisar o seu início, é provável que fossem em seu núcleo essencial um remanescente que se separou da cristandade oficial rejeitando a união da igreja e o estado, depois da ascensão de Constantino em 311 DC (por ex: os novacianos). Alguns deles puderam ter emigrado para os remotos e isolados vales alpinos, onde conservaram intactas por muitos séculos a sua fé e pureza evangélicas, alheios a todas as controvérsias e lutas posteriores. Embora mais adiante tivesse estreita comunhão com outros grupos de irmãos perseguidos.
De fato, os numerosos irmãos perseguidos, conhecidos pelos diferentes nomes que lhes eram dados por seus perseguidores, chegaram, com o tempo, a constituir um testemunho unido e de vasto alcance, fora da cristandade organizada. Graças aos escritos que os Valdenses conseguiram perdurar apesar da perseguição. E hoje podemos saber que aqueles grupos de irmãos, unidos por estreitos laços de comunhão, não eram absolutamente hereges gnósticos ou maniqueus, tal como pretendiam os que os perseguia e matavam, mas sim verdadeiros crentes ortodoxos em sua fé e bíblicos em suas práticas. Assim o Papa Gregório IX declarava: "Nós excomungamos e anatematizamos a todos os hereges, cátaros, patarinos, Homens Pobres de Lion (Valdenses), arnaldistas... e outros, qualquer que seja o nome pelo qual são conhecidos, já que têm de fato diferentes rostos, mas estão unidos por suas caldas e se reúnem no mesmo ponto, levados por sua vaidade".
Também o inquisidor Davi de Augsburgo reconhecia o fato de que em princípio as seitas, que resistiam juntas na presença dos seus inimigos, "eram uma só seita".
Pedro de Valdo
Um dos homens mais conhecidos e destacados entre eles foi Pedro de Valdo, um bem-sucedido comerciante e banqueiro de Lion que, depois de uma atenta leitura da Bíblia foi impactado profundamente pelas palavras do Senhor em Mateus 19:21, "Se quer ser perfeito, vai, vende tudo o que tem e dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; e depois vêm e segue-me".
Em conseqüência, em 1173 deu uma boa quantidade da sua fortuna a sua esposa, repartiu o resto aos pobres e se entregou a uma vida itinerante de pregação. Outros companheiros se uniram a ele e viajaram juntos pregando do mesmo modo. Foram chamados 'Os Homens Pobres de Lion'. Em 1179 pediram ao Papa Alexandre III uma licença especial para continuar com os seus trabalhos, mas esta foi negada. Mais adiante foram inclusive excomungados.
Pedro de Valdo entrou em íntima relação com os Valdenses dos vales alpinos, e, possivelmente por essa razão, muitos historiadores o consideraram erroneamente o seu fundador, depois de observar a aparente coincidência entre o seu sobrenome 'Valdo' e o nome 'Valdenses'. Mas este suposto vem senão do costume de querer ver um fundador ou líder na origem de todo movimento espiritual. De fato, o nome 'Valdenses' parece derivar-se melhor do francês 'Vallois' (pessoas dos vales), que aparece em muitos manuscritos anteriores a Pedro de Valdo.
No entanto, De Valdo chegou a ser considerado como um dos seus apóstolos pelos mesmos Valdenses, a quem ajudou a sair do relativo isolamento em que se encontravam para lhes dar um notável impulso missionário. Realizou numerosas viagens e espalhou a fé em muitos países. Assim, diversas congregações de irmãos floresceram por toda a Europa ocidental, e se converteram em refúgio de outros irmãos perseguidos, tais como albigenses e cátaros.
Pedro de Valdo morreu provavelmente na Boêmia no ano de 1217, onde trabalhou ardentemente para semear a semente do Evangelho, que floresceria mais tarde entre os Irmãos Unidos e João Huss.
Fé e práticas
Os Valdenses reconheciam na Escritura a única autoridade final e definitiva para sua fé e práticas. Criam na justificação pela fé e rejeitavam as obras meritórias como fonte de salvação. Em 1212 um grupo de 500 Valdenses de várias nacionalidades foram detidos em Estrasburgo e queimados na fogueira pela Inquisição. Então, um dos seus pastores declarou pouco antes de morrer: "Nós somos  pecadores, mas não é a nossa fé a que nos faz tais; tampouco somos culpados da blasfêmia pela qual somos acusados sem razão;

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